Não sei
se existe vida após a morte, o que amenizaria bastante a dor de partir deste
mundo caso a resposta fosse afirmativa. Mas sei que meu ego não quer morrer
jovem ou de morte sofrida. Sendo assim, resolvi levar um lero com essa temida figura:
a Morte. Comecei dizendo a ela que queria ter uma vida longa e próspera, com
saúde e morrer dormindo, ao que ela respondeu com uma gargalhada e me disse: Isso é o que todo mundo quer, minha querida!
Essas cotas já estão preenchidas para os próximos mil anos. Esqueça! Um
pouco chocada escolhi, então, a variação “morte imediata por acidente”, de
preferência voltando da viagem dos sonhos. Então a morte me respondeu: Tem algumas vagas nesse tipo de morte, mas
só nas viagens de ida! Não acreditei na minha má sorte. Disse a ela que,
sendo assim, preferia morrer em batalha: como bailarina durante uma
apresentação ou, ainda, jogando em uma roda de capoeira. Mas a morte me disse
que eu poderia constranger muitos corações amigos ao mesmo tempo e isso seria bastante
egoísta da minha parte. Está bem!, disse
eu, Então me diga quais opções você me
sugere! E, para minha total surpresa, a morte me disse que só tinha cotas
no SUS ou nas mortes lentas oferecidas pela
medicina moderna que nos salva do que nos mataria e nos mata do que lentamente
nos consome. Aaaaaaaaaaaaaaahhhhhh!,
disse eu, que proposta magnífica você tem
para mim! E me retirei do papo indignada, na esperança de que eu encontre,
enquanto existir vida neste esqueleto, uma forma melhor de encontrar a Morte!
Este
blog nasce da necessidade cada vez maior que pessoas idosas têm encontrado de
serem orientadas, auxiliadas, cuidadas por filhos, parentes, amigos,
cuidadores, enfermeiros que, devido às solicitações modernas, não estão tão
disponíveis quanto o necessário, ou não possuem o conhecimento, a atenção e a
paciência requeridos, portanto a Vocação, para abraçar o idoso em seu final de
vida, uma vez que a medicina tem estendido a vida humana para além da sua
naturalidade, a qualquer preço, como se quisesse brincar de Deus ou o estivesse
desafiando.
Peço
gentilmente aos amigos que puderem contribuir conosco com artigos
esclarecedores e orientadores aos idosos e seus cuidadores, que o façam, sempre
tendo como objetivo o tripé idoso-família-cuidador. Qualquer pessoa pode ter
uma boa experiência para encantar, esclarecer, resolver, aliviar, ajudar a
compreender a dificuldade desta fase da vida. Este blog precisa de divulgação
nas redes sociais, esta também pode ser uma grande ajuda.
Agradeço
a atenção esclarecendo que, neste primeiro momento, artigos e comentários serão organizados antes de
serem postados e isso poderá levar tempo. Espero que nossa vaidade não nos impeça
de participar.
Tive a sorte de
crescer na natureza. Lá, os raios me falaram da morte repentina e da
evanescência da vida. As ninhadas de camundongos revelavam que a morte era
amenizada pela nova vida. (...) Uma loba matou um de seus filhotes que estava
mortalmente ferido. Para mim foi como uma dura lição sobre a compaixão e a
necessidade de permitir que a morte venha aos que estão morrendo. Clarissa Pinkola Estés
A vida de um idoso pode ser mesmo muito difícil. Meu pai está rumo aos 90 anos e até um tempo atrás eu tinha muita dificuldade de entendê-lo. Noutro dia comecei a refletir sobre uma pequena frase que ele me disse." ...eu brigo com a vida, reclamo, pois vejo que ela me escapa..." e fazendo um sinal como se ela escapasse das suas mãos, ele se emocionou e me calou.
ResponderExcluirDe fato, o tempo é cada vez é menor. Todos os sonhos não realizados tem cada vez menos chances de se realizarem e ai pode vir o sofrimento, a incompreensão, que, com as próprias limitações da idade avançada, podem tornar a vida "difícil" .
Percebi que não adianta brigar com ele, tentar convence´lo que não pode fazer isso ou aquilo, que tem que ser desta ou daquela forma; ele vai fazer o que quer e como quer e quando quer. Tentei me colocar no lugar dele e percebi que de fato pode ser bem complicado aceitar conselhos a esta altura da vida.
Assim, estamos levando, tentando administrar as dificuldades e diminuir os prejuízos. Deus nos ajude!
Célia, parece-me que a vida nos escapa sempre, a diferença é que a agilidade física e mental nos permite correr atrás dela e por vezes alcançá-la. Ao perder boa parte da nossa destreza é como estar em um trem em movimento querendo segurar nos olhos uma paisagem deslumbrante que já passou. Como aceitar essa perda ou compensá-la?
ExcluirQue linda idéia! Perdi meu pai no ano passado e minha mãe tem alzheimer...mto bom compartilhar sobre...
ResponderExcluirAbç,
Marcia.
Sei o que significa ter mãe com alzheimer. Não é fácil. A doença impõe uma longa e sofrida maratona ao paciente e à família. No caso específico de minha mãe que já está na fase final, ela se foi, mas ainda está viva... se existe algum lado positivo nessa história triste é a possibilidade de refletir sobre o que realmente é importante na vida e perceber como é possível superar diferenças pessoais em prol da união da família.
ResponderExcluirMuito bom, Silvia. É muito difícil perder nossos entes queridos para doenças degenerativas. Acho que precisamos muito de espaços como estes. Grande abraço, Maria Helena
ResponderExcluirSílvia, gostei muito do blog e fiquei me perguntando o que a levou a ele, os motivos. Acho da maior importância se falar sobre velhice, morte e afins. Parabéns. Beijos e poste mais. poste sempre.
ResponderExcluirCara Ana, perceber que os velhos da família não são eternos, precisar me preparar para aceitar as perdas porque elas não estavam sequer no meu cérebro, o que dizer no meu coração, ver o sofrimento causado pela prática da chamada medicina fútil são alguns dos motivos para ter vontade de gritar. Participe do blog, será um prazer receber a contribuição de pessoas tocadas por ele. Obrigada e um abraço.
ExcluirQuerida Silvia, essa Ana aí de cima, sou eu, a Anaelena. Fantástica a sua iniciativa, eu passei por muitas perdas e tive que aprender na marra a enfrentá-las. Bem, claro, tive o amparo de muitos amigos, da própria família e também de muitos livros, mas nunca passou pela minha cabeça fazer um blog, discutir isso tudo mais abertamente. Concordo inteiramente com o que você chama de medicina fútil, mas conheci alguns médicos que praticam a medicina paliativa, são sensacionais e tem um trabalho que nos dá esperança. A dra; Ana Claudia de Lima Quintana Arantes é uma delas (você acha no google). A Ana acompanhou minha irmã em seus últimos dias e lhe deu e à família toda um grande conforto. Vale conferir. Por hoje é só, mas tenho muito a dizer, viu? a morte, de alguma maneira, sempre me 'perseguiu' . rs Beijos, muitos beijos.
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ResponderExcluirSilvia, passar dos 40 anos tendo os pais vivos nos traz alegrias, a chance de refletirmos sobre nossa possível velhice, mas também pode trazer ônus, inquietações e sofrimentos.
ResponderExcluirLi sobre uma peça italiana, dentro da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, que trata justamente da relação filho-cuidador e pai. Contudo, parece ir além desta e outras questões humanas profundas. É GRATUITA. Fica a dica: www.mitsp.org
"Sobre o conceito do rosto no filho de Deus", esse é o nome da peça que a Simone citou no comentário. Obrigada pela dica, Si!
ResponderExcluirSuper benvindo seu Blog, Silvia!!! Uma questão que todos nós estamos enfrentando com muito pouco preparo. Conte comigo! Abraço,
ResponderExcluirIracema.
Puxa! As coisas aparecem em momentos inesperadamente oportunos! Minha mãe enfrentou um câncer de mama e não quis fazer quimioterapia após a mastectomia. Agora, o câncer passou para o pulmão e ela mudou de ideia, receosa de morrer antes de ver certas coisas de família.... Por mais que a gente seja espiritualizado não consegue lidar com isso direito. E como estamos nos revezando (irmãos) nos cuidados com ela, estamos com nossas vidas pessoais e profissionais de cabeça pra baixo. Mas ainda achamos que é um preço pequeno pra ficar com ela o quanto for possível...
ResponderExcluirGrande abraço,
Adhemar
Oi, Adhemar! Precisamos saber o que queremos da vida. Achamos que queremos isto ou aquilo, muitas vezes nos arrependemos de nossas escolhas e não podemos voltar. Precisamos saber o que queremos da vida! E arcar com as consequências. Duro, não é? Mas a vida é assim e também é milagrosa. Quem sabe o aprendizado que será para sua mãe? De qualquer modo, não descarte a possibilidade de pedir a ajuda de um terapeuta especializado em pessoas de idade, ou mesmo de um religioso que a ajude a aceitar o que for preciso aceitar.
ResponderExcluirSei exatamente do que está falando sobre a bagunça nas vidas pessoal e profissional, Cuidadores podem ajudar, mas é um desgaste enorme, tanto pelo lado financeiro quanto pelo emocional, e nem todos têm condições de lidar com isso.
Vamos nos falando. Um abraço.