domingo, 25 de maio de 2014
Nunca é Tarde Demais
O Blog da Bengala hoje quis estar presente apenas com uma dica de filme
para assistir em casa, mais adequada para o tempo chuvoso e frio aqui de
São Paulo. Com atores de primeira linha, o filme The Bucket List ou Nunca é Tarde Demais,
de 2007, é para rir e chorar, além de nos ajudar a ter uma postura mais
positiva diante das dificuldades da vida. Com cobertor, chá e pipoca
fica ainda melhor! Bom filme!
domingo, 18 de maio de 2014
Sob o Céu que nos Protege
Tenho observado a pretensa evolução
do pensamento humano sob a ótica do conforto e da segurança na ilusão de estar
caminhando rumo a uma felicidade cada vez maior. Supostamente esses dois elementos
nos dariam a sensação de termos o controle sobre a vida: estou seguro portanto
nada nem ninguém pode me atingir e tenho conforto, o que evita eu me
desgastar fisicamente, promovendo uma vida longa. Porém, se existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã
filosofia (William Shakespeare), o que nos leva a acreditar que esse
controle seria possível?
Como uma criança de três anos entro em uma sequência infinita de porquês e aprofundo até encontrar uma única justificativa, a justificativa da sobrevivência: temos um medo selvagem de que um leão faça de nós o seu jantar! Ou de que um tubarão coma apenas uma parte do nosso corpo nos fazendo dependentes até o fim de nossas vidas. É a luta instintiva pela sobrevivência do corpo, ampliada para a sobrevivência da alma e do ego, já que nosso pensamento ficou tão elaborado.
Como uma criança de três anos entro em uma sequência infinita de porquês e aprofundo até encontrar uma única justificativa, a justificativa da sobrevivência: temos um medo selvagem de que um leão faça de nós o seu jantar! Ou de que um tubarão coma apenas uma parte do nosso corpo nos fazendo dependentes até o fim de nossas vidas. É a luta instintiva pela sobrevivência do corpo, ampliada para a sobrevivência da alma e do ego, já que nosso pensamento ficou tão elaborado.
Para adiar a morte física, anímica e
do ego, tratamos de garantir a segurança e o conforto acarpetando nossas
cavernas, dividindo-as em espaços de funções variadas, fechando-as como cofres
e cavando-as com buracos nas pedras para a luz do sol entrar. Juntamo-nos em sociedade
porque em bandos podemos derrotar mais facilmente o leão, porque assim é mais
fácil viver, mesmo muitas vezes nos sentindo
oprimidos pelos limites castradores da cultura.
Criamos mecanismos psicológicos de
crenças que normalmente nos fazem acreditar que a vida é lógica: “Andar
descalço dá resfriado!”, mesmo que isso não seja verdade, é o que repetimos até
se tornar uma. Esse mecanismo de crenças também nos ajuda a explicar o
inexplicável: Deus. Para nos sentirmos realizados, cumpridores do nosso dever,
desenvolvemos mecanismos de projeção, onde o outro é sempre o obstáculo da vida
que me impediu de realizar o que eu queria. Se não fiz, foi por sua causa! Você
que não me deixou!
Mas chega no fim da vida, no momento
do último balanço, nada tem muito mais importância. Quando o freio não existe
mais, começamos a colocar nossas frustrações e mágoas para fora. As projeções são
despejadas nua e cruamente e pessoas que tanto se gostavam a ponto de
conviverem juntas uma grande parte da vida, passam a brigar como nunca. As
crenças podem se reduzir a pedidos desesperados de socorro a Deus e a uma
sensação de abandono.
Nossos complexos de imperadores
egípcios afloram: queremos que as coisas sejam feitas na hora que solicitamos e
do nosso jeito. Banho? Só quando Eu quiser! E Eu não quero nem hoje nem amanhã!
Queremos que todos venham nos atender,
porque fizemos tanto por eles a vida toda e agora é a vez deles de “devolverem
todo esse sacrifício”. As mães são especialistas nisso, porque normalmente se
esqueceram de si para criar os filhos e, de alguma forma, para servir o marido.
Ainda que a mulher tenha cantado cada vez mais sobre seus ossos e esteja
recuperando sua natureza divinamente selvagem, esse processo é muito lento.
A morte é um momento solitário,
ninguém deve querer viver isso pelo outro. Acolher sim, ajudar física e
espiritualmente sim, mas tomar para si, não. Vejo minha mãe chegando ao fim de
sua vida e fazendo esse balanço de forma tão sofrida. Então penso que podemos
nos preparar mais cedo para isso. A pergunta inevitável é “Como?”. Os caminhos
são muitos e pessoais, mas um caminho que me vem claro como um rio de águas
limpas é que se observarmos melhor todos os momentos da vida onde morremos e
renascemos vamos entender a naturalidade desse processo, seu ritmo e o que
contribui para morrermos e o que nos faz renascer. Nesse mecanismo de auto-conhecimento
vamos aos poucos descobrindo quem somos de fato, o que estamos fazendo conosco
à medida que fazemos nossas escolhas, podendo, assim, escolher melhor e recuperar
o fluxo criador, passando a nos expressar mais verdadeira e alegremente,
construindo uma Cultura de Paz.
“...procurar a jugular,
chegar direto ao miolo e aos ossos de tudo que existe na sua vida, porque é ali
que está o seu prazer, é ali que está a sua alegria, é ali que está o Éden(...),
aquele local onde há tempo e liberdade de ser, de perambular, de se maravilhar,
de escrever, cantar e criar sem medo.” Clarissa Pinkola Estés
domingo, 4 de maio de 2014
Por Minha Culpa, Minha Culpa, Minha Máxima Culpa
Um dia fomos como os animais e, então,
tínhamos vida curta e tensa. Com o desenvolvimento de nossa habilidade física,
principalmente a cerebral, chegamos aqui, neste espaço e tempo de vida longa e,
ainda que de outra maneira, também tensa. Nesse percurso muitos inimigos
cruzaram nosso caminho e na dominação de uma cultura sobre a outra nossa força
selvagem foi sendo aos poucos aprisionada em algum canto do nosso ser. Pagamos
um preço alto por isso: com nossa criatividade cativa passamos a acreditar que
somos aquilo que nossos dominadores sempre quiseram nos fazer acreditar. A
ousadia de duvidar de quem nos oprime fica para os loucos ou para os
verdadeiramente corajosos.
Grosso modo, sob uma formação religiosa judaico-cristã secular passamos a acreditar que tudo de bom que fazemos é por obra de Deus e o mal que nos mancha a alma é obra do demônio que age por nossa permissão e culpa, portanto somos merecedores do castigo divino.
Se diante da imensidão do Universo não somos mais que um grão de areia, como um Deus de Amor pode dar tanta importância à imperfeição de um grão tão pequeno e ainda querer castigá-lo tão duramente? A quantos dominadores será que essa crença serviu e serve?
Não bastasse isso, e talvez como consequência disso, adoramos julgar o outro. Para nossa segurança emocional, baseados em uma gama de crenças nos fechamos em nossas verdades, como se a vida fosse uma ciência exata. E como ela nos assusta quando descobrimos que se assemelha mais a um jogo de pôquer! Nesse conjunto de verdades montadas e de inseguranças reais se constrói a miséria humana de autoflagelação e punição do próximo.
E onde entra a questão do idoso nisso tudo? Muito simples: o idoso se culpa por dar tanto trabalho para a família, a família se culpa por não conseguir dar ao idoso a dignidade merecida, o cuidador se culpa por perder a paciência com frequência, a filha se culpa por não estar vinte e quatro horas no hospital acompanhando cada visita do médico, cada movimento da enfermagem, o neto não quer ver a vovó morrer, o vizinho fica minando de dor o coração do doente dizendo que tal filho não veio vê-lo e deveria ter vindo, o conhecido condena a decisão da família de colocar o idoso em uma clínica, a família também se culpa por colocar o idoso em uma clínica... E, assim, o mundo vai se colorindo de cinza, se enchendo de tristeza e de dor.
Existem filosofias onde a culpa não é o foco. O que existe são princípios éticos, um aperfeiçoamento da atenção, uma aceitação das coisas como elas são e, o principal: um exercício de perdão porque existe a certeza de que fazemos sempre o melhor que compreendemos. Afirmação absurda para um perfeccionista, que também deve ser perdoado porque não consegue compreender de outro modo. Usar esse entendimento como justificativa para não fazer o que deve ser feito também deve ser perdoado e compreendido como o melhor que a pessoa pode dar.
E já que Deus pode ser visto de tantas formas diferentes, prefiro ficar com um Deus que me criou para arbitrar livremente e, seja qual for minha escolha, estará em algum lugar para me acolher e me dizer, como em A Cabana, de William P. Young: Não preciso castigar as pessoas pelos pecados. O pecado é o próprio castigo, pois devora as pessoas por dentro. Meu objetivo não é castigar. Minha alegria é curar.
O final da vida pode se estender a um longo sofrimento físico e anímico para o idoso e as pessoas próximas. Mas quando esse inferno chega ao fim, o fogo é extinto e, junto com ele, qualquer resquício de culpa deve virar cinza. É hora de deixar a água da tristeza correr livremente para lavar a alma dos vivos e trazer a sua cura.
Grosso modo, sob uma formação religiosa judaico-cristã secular passamos a acreditar que tudo de bom que fazemos é por obra de Deus e o mal que nos mancha a alma é obra do demônio que age por nossa permissão e culpa, portanto somos merecedores do castigo divino.
Se diante da imensidão do Universo não somos mais que um grão de areia, como um Deus de Amor pode dar tanta importância à imperfeição de um grão tão pequeno e ainda querer castigá-lo tão duramente? A quantos dominadores será que essa crença serviu e serve?
Não bastasse isso, e talvez como consequência disso, adoramos julgar o outro. Para nossa segurança emocional, baseados em uma gama de crenças nos fechamos em nossas verdades, como se a vida fosse uma ciência exata. E como ela nos assusta quando descobrimos que se assemelha mais a um jogo de pôquer! Nesse conjunto de verdades montadas e de inseguranças reais se constrói a miséria humana de autoflagelação e punição do próximo.
E onde entra a questão do idoso nisso tudo? Muito simples: o idoso se culpa por dar tanto trabalho para a família, a família se culpa por não conseguir dar ao idoso a dignidade merecida, o cuidador se culpa por perder a paciência com frequência, a filha se culpa por não estar vinte e quatro horas no hospital acompanhando cada visita do médico, cada movimento da enfermagem, o neto não quer ver a vovó morrer, o vizinho fica minando de dor o coração do doente dizendo que tal filho não veio vê-lo e deveria ter vindo, o conhecido condena a decisão da família de colocar o idoso em uma clínica, a família também se culpa por colocar o idoso em uma clínica... E, assim, o mundo vai se colorindo de cinza, se enchendo de tristeza e de dor.
Existem filosofias onde a culpa não é o foco. O que existe são princípios éticos, um aperfeiçoamento da atenção, uma aceitação das coisas como elas são e, o principal: um exercício de perdão porque existe a certeza de que fazemos sempre o melhor que compreendemos. Afirmação absurda para um perfeccionista, que também deve ser perdoado porque não consegue compreender de outro modo. Usar esse entendimento como justificativa para não fazer o que deve ser feito também deve ser perdoado e compreendido como o melhor que a pessoa pode dar.
E já que Deus pode ser visto de tantas formas diferentes, prefiro ficar com um Deus que me criou para arbitrar livremente e, seja qual for minha escolha, estará em algum lugar para me acolher e me dizer, como em A Cabana, de William P. Young: Não preciso castigar as pessoas pelos pecados. O pecado é o próprio castigo, pois devora as pessoas por dentro. Meu objetivo não é castigar. Minha alegria é curar.
O final da vida pode se estender a um longo sofrimento físico e anímico para o idoso e as pessoas próximas. Mas quando esse inferno chega ao fim, o fogo é extinto e, junto com ele, qualquer resquício de culpa deve virar cinza. É hora de deixar a água da tristeza correr livremente para lavar a alma dos vivos e trazer a sua cura.
Pensar em Deus é desobedecer a Deus,
Porque Deus quis que o não conhecêssemos,
Por isso se nos não mostrou...
Sejamos simples e calmos,
Como os regatos e as árvores,
E Deus amar-nos-á fazendo de nós
Belos como as árvores e os regatos,
E dar-nos-á verdor na sua primavera,
E um rio aonde ir ter quando acabemos!...
E um rio aonde ir ter quando acabemos!...
Alberto
Caeiro, em "O Guardador
de Rebanhos".
de Rebanhos".
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