domingo, 6 de abril de 2014

Cuidar: uma Escolha!







Os pais vão envelhecendo, não nos apercebemos disso, temos que cuidar da nossa vida. Mas um dia vem um telefonema dizendo que seu pai infartou. Junto com a notícia, ou logo depois, vem o desespero dos primeiros cuidados e a consciência de que algo mudou profundamente. Como resolver a vida de alguém que nada pode fazer neste momento e de quem você sabe menos do que precisaria saber para o momento? Te vira, amigo! Você tem que cuidar da sua vida? Ok e agora tem que cuidar também da vida do seu pai. Com muita sorte poderá contar com a ajuda de sua mãe, de irmãos, de parentes...

Se você está emocionalmente abalado ou não, não faz a menor diferença, o planeta continua girando em torno do sol e as contas chegarão! As necessidades da sua mãe, que eram divididas com seu pai, agora serão divididas com você. Você tem dois filhos para cuidar? Sinto informar, da noite para o dia você ganhou mais dois, que muitas vezes dão mais trabalho do que os filhos menores porque são adultos, independentes, com vontade própria e essa vontade nem sempre está de acordo com o que você gostaria!

Ah, você é do tipo que não quer cuidar? Então vai abandonar? Tudo bem, se você conseguir ficar em paz com isso... É uma escolha! Mas por favor, não venha armar confusão no hospital ou chorar em prantos no velório ou, ainda, comparecer para a leitura do testamento! Aprendi com a vida que seja lá o que escolhemos fazer devemos fazer por inteiro.

Se a escolha for cuidar, então prepare-se porque você vai se descobrir na sua vocação. Da noite para o dia você terá que se tornar no mínimo contador, secretário, administrador, cuidador, enfermeiro, médico, motorista, cozinheiro, psicólogo... Vai crescer na marra!

Se essa situação for temporária, ótimo. Será uma oportunidade da vida para te trazer para o mundo real e para te ajudar a expressar todo o amor que você tem pelos velhos. Se for uma situação que se prolonga por meses ou anos a fio, o desgaste físico e emocional do cuidador será inevitável, e este é um capítulo à parte.

As saídas são muitas e, novamente, envolvem escolhas. Essas escolhas acontecerão dentro das situações apresentadas pela vida. Lembrando que a vida é surpreendente e desconhece a palavra justiça da forma como a conhecemos. Sendo assim, alguns dirão que essas situações fazem parte de sua má sorte. Outros dirão que essas situações são trazidas pela vida para fazer de você um ser melhor. Outros, ainda, dirão que são escolhas nossas feitas em um nível mais subconsciente para trazermos luz a aspectos mais obscuros do nosso ser. Seja lá como for, a decisão final, em última instância, será sempre uma escolha. Poucos humanos te perdoarão se nessa escolha você não respeitar os padrões morais secularizados pela cultura, mas o Universo te absolverá: com certeza você terá feito o melhor que pode compreender.

Não escolhi cuidar de meus pais porque eles cuidaram de mim quando pequena. Eles escolheram ser pais e tinham obrigação de cuidar dos filhos que trouxeram ao mundo. Escolhi cuidar deles porque construímos uma relação positiva de afeto ao longo da vida, não os abandonaria, jamais. Nunca eles barganharam esse cuidado. Em hipótese alguma me criaram pensando que assim teriam alguém para cuidar deles quando fossem velhos, ao contrário, quando o medo da morte é menor que a lucidez, minha mãe se lamenta muito pelo fato de eu ter mudado grande parte da minha vida para apoiá-la. Claro que não fiz essa escolha por prazer, mas porque a vida me colocou diante de um problema. Pelo amor escolhi não abandoná-los, por prazer teria ido para bem longe no primeiro minuto que a vida deles começou a decair. Como poderia escolher ficar por prazer? Minha natureza é amorosa, não sádica!

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive. Ricardo Reis

3 comentários:

  1. Que lindo, Silvia, parabéns!!! Adorei a escrita e o conteúdo. Obrigada!

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  2. Acredito que as escolhas, principalmente do cuidar, estão ligadas profundamente com a relação afetiva que foi construída. Assim, obrigada por mais esse texto que nos faz refletir não só sobre a última etapa da vida, como também, sobre outros momentos de existência.
    Beijos.

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  3. Ahhh, tenho recomendado seu blog para outros amigos que vivenciam momentos parecidos com seus relatos e o retorno tem sido ótimo.

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