Quando
procuramos o significado da palavra cuidar
no dicionário, encontramos muitos significados, entre eles: ação de tratar
de algo ou alguém; zelar ou tomar conta de algo ou alguém; preocupar-se com ou
assumir a responsabilidade de; dar atenção a; reparar ou notar. Conclui-se,
portanto, que cuidador é aquele que nota o outro, zela por ele, toma conta
dele, se preocupa em assumir para si a responsabilidade sobre o outro.
Na tentativa de manter a sanidade dos “sobreviventes”, resolvemos terceirizar as duas vovós. A primeira a ser terceirizada inicialmente ficou em sua casa com cuidadoras 24hs por dia e seu marido, dez anos mais velho, completamente auto-suficiente e capaz de coordenar os afazeres diários das contratadas. A cuidadora do dia ficava também com a limpeza da casa, já que o vovô fazia o almoço, ajudava com as roupas e com os cuidados da vovó. A cuidadora da noite ficava só com a idosa e poderia contar com ajuda em caso de necessidade.
Na tentativa de manter a sanidade dos “sobreviventes”, resolvemos terceirizar as duas vovós. A primeira a ser terceirizada inicialmente ficou em sua casa com cuidadoras 24hs por dia e seu marido, dez anos mais velho, completamente auto-suficiente e capaz de coordenar os afazeres diários das contratadas. A cuidadora do dia ficava também com a limpeza da casa, já que o vovô fazia o almoço, ajudava com as roupas e com os cuidados da vovó. A cuidadora da noite ficava só com a idosa e poderia contar com ajuda em caso de necessidade.
Entretanto,
somando roubo de dinheiro de uma cuidadora, de alimentos de outra, faltas sem
aviso prévio, licenças médicas, férias, falta de grana e tantas outras
particularidades, nosso Superman muitas vezes sentia-se só e sobrecarregado.
Começou, então, a perder a saúde rapidamente. Considerando que não podíamos
estar presentes em seu dia a dia e a vovó já não tinha mais lucidez, não havia,
portanto, melhor solução do que colocá-la em uma casa de repouso.
Tínhamos restabelecido a vida para o vovô, mas não sem ter que enfrentar diariamente o ataque de vilões que tentavam enfraquecê-lo. Não tínhamos mais problemas com faltas, férias, licenças médicas, roubos, mas passamos a ter outros problemas como subnutrição, quantidade errada de medicamento, fratura por descuido, sumiço de roupas, consumo exagerado de produtos de uso pessoal.
A segunda vovó a ficar doente e totalmente dependente está lúcida, sempre morou com sua irmã dois anos mais nova, por isso optamos por mantê-la em casa, com cuidadora 24hs por dia, em sistema de revezamento: trabalham 48hs e descansam 48hs.
Tínhamos restabelecido a vida para o vovô, mas não sem ter que enfrentar diariamente o ataque de vilões que tentavam enfraquecê-lo. Não tínhamos mais problemas com faltas, férias, licenças médicas, roubos, mas passamos a ter outros problemas como subnutrição, quantidade errada de medicamento, fratura por descuido, sumiço de roupas, consumo exagerado de produtos de uso pessoal.
A segunda vovó a ficar doente e totalmente dependente está lúcida, sempre morou com sua irmã dois anos mais nova, por isso optamos por mantê-la em casa, com cuidadora 24hs por dia, em sistema de revezamento: trabalham 48hs e descansam 48hs.
Existem
idosos que não dão quase trabalho para cuidar, dormem à noite, quase não
solicitam durante o dia, estão mais em harmonia com a finitude do corpo. São o
“sonho de consumo” das cuidadoras! Mas este não é o caso da segunda vovó. Ela
solicita o dia todo, raras são as noites inteiras que dorme e é um verdadeiro
compêndio médico! Fechar uma equipe de cuidadoras razoavelmente comprometida
com essa situação não foi fácil, mas conseguimos, embora seja um contexto de
bastante vulnerabilidade. Temos problemas com ausências, com compromissos
comunicados em cima da hora, com dificuldades familiares muito sérias - consumo
de drogas, convivência com bandidos. Temos, ainda, problemas com o padrão de
higiene muito inferior, situação bastante delicada para doentes com infecções
crônicas; problemas com troca de remédios, muito observada pela vovó que, felizmente,
fica de olho em tudo; problemas com a ventilação e arrumação da casa, dos
armários e guarda-roupas; com a troca de roupas do dia a dia; com os
alimentos... Por isso o controle geral da casa ficou com a irmã ainda muito
saudável, embora já cansada, e o almoço ficou por minha conta, assim eu poderia
garantir minimamente a higiene e o valor nutritivo do almoço. As demais
refeições entreguei nas mãos de Deus, como diz o povo, porque quando o gato
sai, os ratos fazem a festa! Aos poucos percebi que por mais que fizesse, não
teria o controle de tudo e o que quer que acontecesse seria sempre o melhor
possível dentro de uma determinada conjuntura!
Mas
os perigos oferecidos pelos cuidadores não acabam por aqui. Longe de estarem de
acordo com a definição do dicionário, muitas vezes o cuidador viu nessa
profissão um meio de ganhar mais do que uma empregada doméstica de serviços
gerais e aí começa um grande equívoco. As cuidadoras acham que não terão mais
que fazer faxina e as faxineiras acham que cuidar de um idoso é um serviço mais
leve! Hahaha! Doce ilusão! Em primeiro lugar, ainda que o cuidador não faça a
faxina, casa de idoso também suja e tem que ser mantida minimamente limpa. Quem
pode manter um empregado especializado em cada serviço da casa é cerca de 5% da
população!!! E o restante, como faz?
Em
segundo lugar, idoso há muito tempo deixou de ser bebê: pode ser pesado,
teimoso, sentir frio, já ter perdido grande parte da vontade; pode usar fralda,
não enxergar, ser surdo, muitas vezes não entender o que deve fazer, ser
depressivo... Ai! Cansei! Prefiro fazer faxina! Cuidar, antes de tudo, é um ato
de responsabilidade e de generosidade. Se o foco for o salário e não a vocação,
não dará certo.
Algumas
clínicas trabalham com empregados sem registro e mal pagos, portanto com grande
rotatividade de pessoal, acarretando a repetição permanente dos mesmos erros.
Os cuidadores domésticos, muitas vezes bem indicados, chegam até a casos de
envenenamento de idosos para roubo de seus pertences. Raros são os casos de
empregados que se comprometem de fato com o idoso a ponto de tratá-lo como se
fosse seu próprio pai ou mãe. Entre um extremo e outro existe o cuidador que
será contratado por você. Para este cuidador as estatísticas não valem, ele
será o que você e seus familiares conseguirem construir junto com ele. Temos
uma das cuidadoras que foi indicada por uma amiga que a despediu. Seu jeito
veio a calhar com o que precisávamos em casa, enquanto não deu certo na casa
dessa amiga!
Nos
tornamos únicos em nossas particularidades e assim é com os cuidadores. Como
todos nós, eles também estão em maior ou menor equilíbrio. O ideal sabemos qual
é, mas como o que temos é o possível, o importante é conseguir desenvolver
junto ao cuidador uma relação de amizade, de troca, de reconhecimento, de
respeito, de afeto, mas principalmente de gratidão, por cada segundo de sua
presença em nosso auxílio, porque é impossível viver em paz sem ele neste agora
tão doloroso.
Aos que a felicidade
É sol, virá a noite.
Mas ao que nada espera
Tudo que vem é grato. Ricardo Reis em “Odes”
É sol, virá a noite.
Mas ao que nada espera
Tudo que vem é grato. Ricardo Reis em “Odes”
A pior parte dos cuidadores é no terceiro tempo, aquele no qual você os reencontra numa sala de TRT...
ResponderExcluirNesse quesito tivemos sorte com minha avó. A maioria das cuidadoras que passaram em casa eram comprometidas, se afeiçoaram a ela e se aplicavam realmente nos cuidados. Mas alguns dos problemas relatados ocorreram, principalmente em termos de higiene e organização; apesar que foram receptivas às críticas e aos reptos.
ResponderExcluirJá tivemos a alguns anos atras, de lidar com cuidadores, na época que quase não se ouvia falar deles. Felizmente encontramos alguns que supriram algumas necessidade. Nota tínhamos bastante apoio familiar também.
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